Quadro- o que eles não te disseram
I
A
pele que me cobre
Há
qualquer coisa sobre a indumentária de frio que deixa quem a veste
mais elegante. O brilho do traje, combinado à textura e o volume.
Pessoas vislumbram-se todos os dias perante as vitrines das lojas
onde casacos, botas e chapéus de pele genuína são exibidos às
ruas. E por um preço módico é possível obtê-los. Porém talvez,
sob o olhar de alguém com mais tato, corra a pergunta de como aquela
peça veio parar naquele lugar, o processo de sua confecção. A
verdade oculta atrás da beleza e do luxo. O que eles não te
disseram.
Do
hábito à moda
A
moda de confeccionar roupas que utilizam peles de animais como
matéria-prima data do século XIX, quando os trajes normais
tornaram-se insuficientes para revestir os corpos da realeza, ainda
mais com a chegada do inverno europeu. Essas novas roupas, mais
elegantes, combinavam com o estilo dos tecidos nobres utilizados
naquele tempo e eram desfilados sobre os ombros evidenciando grande
pompa. Foi entretanto no século XX que o hábito se alastrou. Várias
espécies animais passaram a ser cobiçadas e caçadas pela beleza de
sua pele, algumas até a quase extinção. Eram lebres, raposas,
martas, chinchilas, visons. Com o passar do tempo as focas, linces,
texugos entre outros animais acabaram por entrar nessa macabra lista.
Atualmente na China, um dos países mais cruéis em relação a isso,
as indústrias de peles utilizam até gatos e cachorros na confecção
de vestimentas. O processo de fabricação é desumano, às vezes
feito com o animal ainda vivo. Só na França são abatidos
anualmente 70 milhões de coelhos para este fim. Felizmente a crítica
é fervorosa quanto à isso, pondo na mesa a questão da
desnecessidade da indumentária autêntica de pele de animais, sendo
as de fibra sintética perfeitamente substituíveis pelas
anteriormente citadas. As torturas aplicadas aos animais são
excruciantes e começam logo na sua captura, onde eles penam nas mãos
dos caçadores. Algumas espécies são mortas na hora mesmo, como a
foca ainda jovem, assassinada a pauladas para não danificar a pelagem. Bebês são chacinados nesse processo que acaba por
deixar rastros imensos de sangue, tingindo a neve branca. Outra forma
é a implantação de armadilhas. São elas submersas em água ou, as
mais conhecidas, chamadas de legholders, armadas em solo
aberto, desdobradas e abertas, para quando o animal por ali passar
ficar preso. O engenho de metal se fecha automaticamente sobre a pata
da criatura esmagando e muitas vezes lacerando a carne e os ossos.
Tem início então a dramática tentativa da pobre criatura para se
libertar. Mães desesperadas para retornar aos seus filhotes chegam
ao extremo ao tentar livrar-se de seus membros agora obsoletos,
descartando-os, rasgando-os fora com as próprias unhas e dentes.
Horas são gastas banhadas em desespero até que o animal morra de
exaustão. Se eles não forem mortos dessa forma, provavelmente o
serão por caçadores ou predadores que se aproveitam do estado de
fraqueza do animal. As vítimas das armadilhas aquáticas, como os
castores, levam em torno de vinte minutos para sucumbiram e se
afogar. Para evitar a predação, costuma-se utilizar as armadilhas
suspensas que se assemelham as primeiras citadas na forma de captura,
diferenciando-se apenas por erguer os infelizes animais pelas patas a
uma certa altura do solo, para ali esperarem para ser coletados pelos
caçadores.
Bem-vindo
ao show de horrores
Você
já se perguntou como é feita a extração das peles dos animais
capturados? E mesmo se não tenha feito essa pergunta a si mesmo, há
alguma dúvida que não seja um método menos doloroso dos que os
descritos ao longo desse texto? Os animais são muitas vezes presos
em gaiolas apertadas, em casos superlotadas, onde são maltratados,
subsistindo em péssimas condições de higiene e alimentação.
Alguns adotam o hábito de caminhar incessantemente de um lado para o
outro na cela, ou até mesmo de se chocarem contra as grades da
mesma, tudo devido ao imenso estresse a que são submetidos.
Abaixo
duas formas de abate de animais criados em cativeiro para o posterior
uso de sua pele:
Profissional
1.
Nas fazendas de criação de chinchilas, faz-se um pequeno corte no
lábio inferior do animal e outro próximo ao órgão genital;
2.
Em seguida, é introduzida uma vareta de ferro de um ponto a outro.
Ela funciona como um suporte guia para o corte;
3.
Com um bisturi, se desprega a pele do animal, evitando danificá-la.
Quanto mais intacto o couro, maior o seu valor de mercado.
Amador
1.
Nos modos mais cruéis, como rola em alguns locais da China, o animal
é morto a pauladas e suas patas são decepadas;
2.
O bicho então é dependurado pelo coto da pata, e seu couro é
extraído a partir desse ponto com a ajuda de uma faca;
3.
A pele é puxada com força, como se fosse tirada ao avesso. Em
muitos casos, o animal ainda está vivo durante esse processo;
4.
Uma vez retirada, a pele é presa com alfinetes ou pregos numa tábua,
onde ficará por alguns dias no processo de secagem. Nessa etapa, ela
ganha forma definitiva e não vai mais encolher nem sofrer
deformações;
5.
O passo seguinte é o curtimento da pele. Num curtume, ela passa por
banhos químicos para retirada de sujeiras, cheiro e gordura,
evitando que apodreça mais tarde. Ela também pode ser tingida;
6.
Após o curtimento, as peles vão para as confecções, onde são
costuradas umas nas outras até tomarem a forma de um casaco. No
acabamento, é aplicado um forro, em geral de cetim, na parte
interna.
Abaixo
uma lista de quantos animais são necessários para se fazer apenas
um (01) casaco médio (até o joelho):
.
200 chinchilas
.
125 arminhos
.
50-70 martas
.
30 ratos-almiscarados
.
30 coelhos
.
27 guaxinins
.
17 texugos
.
16 coiotes
.
14 lontras
.
11 linces
.
9 castores
Ring
the alarm – She gon' be rockin' chinchilla coats
E afinal o que há
de tão especial sobre as chinchilas para que o casaco de sua pele
seja o mais cobiçado no mundo todo?Aqui vai a resposta: estudiosos e
apreciadores afirmam que a pele de chinchila não é a mais cara do
mundo, porém o casaco feito dela o é. Uma pele de chinchila de
altíssimo padrão (graúda, pelos longos sem falhas, muito pretos no
dorso e brancos na barriga) vale 80 dólares nos Estados Unidos. Uma
pele do afamado visom é 25% mais cara. A diferença é que são
necessárias cerca de 200 chinchilas minimamente parecidas para que o
casaco possa ficar uniforme e satisfazer o luxo da madame. Um casaco
de visom é tido como artigo de classe média pelos estilistas menos
modestos. Se ele carregar o nome de algum artista famoso, pode valer
algo em torno de US$ 15 mil. Mas não a chinchila, a beldade das
peles. Essa corre pelos US$ 70 mil, valor estimado devido ao
aperfeiçoamento dos criadores e estilistas com mania de
exclusividade.
A
crítica – aqui está o resto do seu casaco de pele
A
questão levantada pelos que não gostam dessa postura é o fato de
matar o animal apenas para uso estético, que é o que diferencia,
por exemplo, do sacrifício de bois, porcos, carneiros, animais de
corte em geral, cujo assassínio ocorre em locais específicos
denominados matadouros, para fins instintivos de consumo humano,
visto que esses animais há muito integram o nosso cardápio de uma
forma latente. O uso de sua pele seria apenas uma consequência.
Matar raposas para o mesmo fim é algo completamente à parte.
Estaria no mesmo patamar da matança de elefantes feita na África
apenas para a extração do marfim.
Há sim várias
respostas ativas contra esses atos de barbaridade, como os ativistas
da International Anti-Fur Coalition (IAFC), ou Coalizão Antipele
Internacional, uma ONG israelense que pretende extinguir o hábito do
sacrifício animal visando o benefício estético. Eles afirmam que,
de longe, os chineses são os mais cruéis em relação ao caso,
esfolando os animais ainda vivos e se valendo inclusive, de cães e
gatos para confeccionar brinquedos de pelúcia. "Usar casaco de
pele animal em pleno século 21, com o tanto de tecnologia que temos
disponível para a criação de tecidos sintéticos, é uma atitude
imoral", diz o sr. Fábio Paiva, da ONG Holocausto Animal, braço
verde-amarelo da IAFC. "Essa conversa de que os animais criados
em cativeiro para esse fim não sofrem é balela. Animais não são
propriedade do ser humano. Apropriar-se indevidamente deles e
matá-los já é sinônimo de sofrimento. Não importa se é indolor
ou não, morte é morte. E matar bicho para preencher sei lá que
tipo de vazio existencial de alguém não é coisa que se faça."
Na próxima postagem-
Ela esteve onde nenhum animal de sua época esteve, foi aclamada mundialmente recebendo inclusive estátuas em seu nome. Mas a inovação lhe custou muito mais do que fama. A verdade sobre a sede incontrolável por ciência. O melhor amigo do homem nunca foi tão útil. O que eles não te disseram.